Coordenador nacional do MBL comenta política local
MBL
Coordenador nacional do Movimento Brasil Livre (MBL), Kim Kataguiri foi criado em Indaiatuba, onde chegou com menos de um ano de vida e saiu para estudar.
Foi durante um curso técnico em Limeira, aliás, que decidiu se aprofundar na política, após uma discussão sobre o Bolsa Família em sala de aula. "Me interessei e fui buscar informações sobre o assunto; vi que era tudo mais complexo do que parecia e fiz um vídeo na internet para comentar o que eu tinha descoberto", lembra.
Hoje é um importante nome no ativismo político do país e divide opiniões. Com os pais ainda na cidade, vem a Indaiatuba frequentemente e acompanha o cenário local. Em entrevista exclusiva à Tribuna, comenta a situação do município, a política nacional e rebate acusações de machismo.
Tribuna de Indaiá - Como começou seu envolvimento com política? E quando nasceu o MBL?
Kim Kataguiri - O interesse inicial foi por economia. Fiz um o vídeo para meu professor e colegas de sala sobre oBolsa Família, pois pesquisei sobre o tema e vi que era muito mais complexo do que foi falado, mas o vídeo viralizou e, então, comecei a fazer outros, isso em 2013. Eu estava terminando o 3º ano do Ensino Médio. Em 2014, meu canal estava crescendo e comecei a conhecer fisicamente pessoas que me seguiam on-line. Tínhamos a mesma ideologia e vimos que a maneira com a qual aprendemos no Brasil é muito ruim, basicamente de institutos, palestras e livros, o que é bom para formar massa crítica, mas você não consegue engajar 200 milhões de pessoas com uma palestra de economia. Foi quando pensamos em manifestações.
Qual foi o marco do MBL?
A primeira manifestação foi em 1º de novembro de 2014, quando consideramos a fundação oficial do MBL. Saímos às ruas depois que a Abril foi pichada, por conta da capa da revista Veja sobre a delação do [Alberto] Yousseff. Esse primeiro protesto foi pela liberdade de imprensa e já pelo impeachment. Com isso, fomos recebendo mensagens pelo Facebook do Brasil todo, e em todo lugar foram montando núcleos do movimento. Logo depois convocamos a manifestação do dia 15 de março [de 2015], que tinha sido a maior, e ganhou repercussão pelo mundo todo.
Vocês são liberais. E a relação com os partidos?
Somos liberais, mas não apartidários; somos suprapartidários. Temos atuação em diversos partidos, sem nos prender diretamente a nenhum.
Uma matéria da UOL acusa o MBL de ser financiado por partidos. É verdade?
Não recebemos dinheiro de nenhum partido. Temos campanhas para filiação e participação de pessoas simpatizantes, que fazem parte do grupo e nos ajudam financeiramente, podendo participar de nossos congressos e fóruns, ganhando livros, com direito a voto nas nossas decisões. Mas recebemos dinheiro somente de pessoas físicas e não de partidos. A atuação deles começou no final do ano passado, depois do [Eduardo] Cunha acolher o pedido do impeachment - queríamos mostrar que o pedido não era briga do Cunha com Dilma, que ele era legítimo. Até porque, até aquele momento, a oposição tinha um discurso parecido com do governo sobre o impeachment. Então começamos a campanha Esse Impeachment é Meu e recebemos apoio dos partidos, de associações, federações... que apoiam formalmente, sem dinheiro. Os partidos que eram da oposição naquele momento apoiaram nossa manifestação - não o MBL, pois a maioria não apoia ideologicamente algumas pautas que temos.
Qual o posicionamento do MBL sobre Michel Temer?
Ele não é nenhum presidente dos sonhos, mas é quem, constitucionalmente, nós temos. Acho que, politicamente, ele já vem cometendo alguns erros, como colocar o Romero Jucá, que já caiu; Henrique Alves, enfim, pessoas que já têm pedidos de inquéritos abertos e autorizados. Agora, a equipe é boa: temos Henrique Meirelles [na Fazenda], Maria Silvia Bastos Marques como presidente do BNDES e outros nomes. Para o mercado, expectativa de melhora é imediata e já conseguimos ver alguns reflexos, então dá para ter esperança. Mas, se houver algum crime de responsabilidade, vamos nos manifestar - não havendo, aí sim é golpe e, por isso, não vamos contra ele nesse momento.
E Eduardo Cunha?
Cunha perdeu há muito tempo a condição de presidente da Câmara. Se tivesse uma denúncia tão grave quanto a dele a um presidente do STF ou do Senado, não conseguiriam se sustentar no cargo, então por que ele continua? Acho que ele deve perder o mandato e ir pra cadeia, sim.
Como está a atuação do MBL a níveis estadual e municipal?
Temos coordenadores nacionais, estaduais e municipais. Estamos em todos os estados, no Distrito Federal, e cerca de 180 cidades. Já tivemos manifestações contra o Governo de São Paulo, principalmente com relação à educação. Municipalmente, cada núcleo tem suas pautas.
E como está sua relação com Indaiatuba?
Acompanho um pouco o que acontece aqui. Me manifestei sobre o pedido de licença do prefeito Reinaldo Nogueira, pois pedir licença para fazer campanha, em uma democracia saudável, não tem o menor sentido. Tudo isso além de outros fatores contra ele que apareceram e que fazem com que tenha razões para acompanhar. Já faz 20 anos que ele está no poder, e a alternância é necessária.
Como o MBL se insere nessa necessidade?
O MBL quer ter candidatos, queremos influenciar através de partidos. Neste ano não sou candidato, não estou filiado a nenhum partido, mas já temos alguns membros que serão candidatos, incluindo o Fernando Holiday, que é coordenador nacional, que sairá a vereador pelo DEM em São Paulo. Aqui em Indaiatuba, o nosso líder, Charles Escodro, deve sair pelo PSDB.
Por fim, você foi acusado de machismo diante de algumas postagens. Qual seu posicionamento quanto a isso?
Não sou contra a mulher. Sou contra o feminismo pós-moderno, que não tem pauta nenhuma. Elas pedem somente o fim da cultura do estupro, mas é complicado falar nisso em um país onde a punição para esses criminosos é o estupro na cadeia. Essa cultura fala sobre o pedreiro assoviar para uma menina na rua? Não dá para comparar esse assovio a um estupro. É assedio, mas não estupro. Não se pode equiparar essas coisas, senão perde o norte moral e legal para normatizar as coisas. Inclusive tem uma feminista forte dos EUA, que é a Camille Paglia que fala da falta de pauta, da militância política para agendas maiores. Hoje, o feminismo pós-moderno é uma arma política. A luta por igualdade deve acontecer, mas não é o feminismo que vemos hoje, o de hoje está deformado, e é a corrente majoritária.
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